A incomparável comparação
Com a recente reeleição de Cristiano Ronaldo para a terceira Bola de Ouro, veio de novo a controversa comparação incomparável com Eusébio, acerca da atribuição do título de melhor jogador português de sempre.
Devo referir que a eleição do melhor jogador do mundo não é titulo que muito me agrade, porque quando falamos de um desporto coletivo, não me parece legitimo todo o destaque e exagerada evidência que se atribui ao individuo.
Eusébio foi considerado pela IFFHS, federação internacional de estatística, como o nono melhor jogador do século XX.
Comparando as incomparáveis médias de golos por jogo:
Cristiano Ronaldo 0,57 golos/ jogo Eusébio 1,02 golos/ jogo
José Mourinho uma vez afirmou acerca de Eusébio:
“Se alguém pudesse estabelecer um paralelismo com aquilo que são os maiores jogadores de futebol actualmente e pensar no que ele seria hoje se tivesse 20 ou 30 anos... Acho que seria uma coisa assombrosa!”.
Patrick Kulivert, internacional holandês, disse numa entrevista:
“Fiquei conhecido como Pantera Negra por semelhanças com o seu jogo. Sabias que os miúdos das escolas do Ajax, dos 7 aos 14 anos, veem não sei quantas jogadas e superjogadas e uma delas, nunca mais me esqueci, é aquela do Eusébio no jogo com a Coreia do Norte, em que ele apanha a bola no meio campo, passa por um, outro, mais um e outro ainda, até ser carregado em falta dentro da área? Pois bem, é o vídeo que nos ensina o domínio da bola... Que jogada, a bola não lhe sai do pé...”
Karl Heinz Rummenigge, sobre Eusébio:
“Eu tinha 10 anos na altura do mundial de 66 e eu queria ser sempre o Eusébio nos jogos de rua, era o jogador da época, o exemplo a seguir, pela força física e pela capacidade técnica.”
Alfredo Di Stefano :
“Para mim Eusébio é o melhor de todos os tempos, uma força da natureza, um talento do outro mundo nos dois pés e uma impulsão fantástica capaz de cabeceamentos mortíferos. Um verdadeiro fora de série”.
Na minha maneira de ver Eusébio nasceu com as condições morfológicas para ser um atleta de eleição. Atingiu um nivel assombroso, apesar de ter sido operado 7 vezes aos joelhos. Independentemente do trabalho muscular desenvolvido na sua progressão na alta competição, não se pode comparar com a tecnologia que está ao dispor dos grandes astros do futebol atual.
Sempre jogou em Portugal, um país fechado, absolutamente ignorado pelo resto do mundo. Eusébio nunca jogou nos grandes centros de influência mediática, como Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha ou França. Foi impedido de jogar no estrangeiro por Salazar. A visibilidade foi conquistada nas competições europeias, porque o campeonato português era perfeitamente ignorado. Com as devidas diferenças, Portugal nos anos sessenta teria uma visibilidade europeia idêntica à que hoje temos da Albânia. Imaginem o que é dar destaque a um desportista com estas origens, tem forçosamente de ser muito superior à média para conseguir evidenciar-se.
Hoje Ronaldo tem uma máquina mediática que suporta e alimenta toda a sua espantosa visibilidade global. Todos os seus feitos têm uma repercussão imediata. Mal comparado, lembro-me do caso de David Beckham, um futebolista mediano, mas que graças a uma fantástica máquina promocional, atingiu uma projeção global.
A nível estatístico não há comparação possível. Na era Eusébio era muito raro um jogador de futebol fazer 40 jogos oficiais por época, hoje os atletas das melhores equipas do mundo, fazem cerca de 60 jogos por ano. Esta diferença serve para explicar a grande quantidade de recordes que são atualmente batidos.
Outra grande diferença tem a ver com os craques que coexistem em cada época.
Actualmente Cristiano Ronaldo tem apenas um fenomenal jogador ao seu nível: Lionel Messi. Todos os restantes estão a um nível um pouco mais baixo, casos de: Manuel Neuer, Frank Ribery, Zlatan Ibrahimovic, Arien Robben, Neymar, Gareth Bale, Luis Suarez, Aguero, Eden Hazard, etc.
Vejamos quem eram os craques contemporâneos de Eusébio:
Di Stefano, Péle, Puskas, Bobby Charlton, Beckenbauer, Cruyff, George Best, Garrincha, Lev Yashin, Gigi Riva. Todos estes nomes figuravam como atletas da primeira elite do futebol mundial e com potencial para ganhar a “Bola de Ouro”, mas este troféu não tinha nessa altura, os mesmos critérios de hoje.
Quando no Verão de 2009 Eusébio esteve na apresentação de Cristiano Ronaldo no Estádio Santiago Bernabéu, perante 85.000 adeptos; Alfredo Di Stefano, que foi o seu ídolo de sempre, virou-se para Eusébio e disse-lhe: “Isto serias tu...”.
Ronaldo é sem dúvida, o melhor jogador da atualidade. É um nome que nos enche de orgulho, pela visibilidade que nos dá pelo mundo fora. Recordo uma vez que fui a Roma e a primeira figura que me recebeu no aeroporto de Fiumicino, foi uma foto enorme de Cristiano Ronaldo a publicitar um perfume. Nas Maldivas quando disse a um dos nativos que vínhamos de Portugal, ele logo retorquiu com um largo sorriso: Ronaldo!
Mas não se pode comparar o incomparável.