Quero, primeiro que tudo, declarar que nunca fui vítima de assédio sexual.
Oiço dizer a tanta gente que tiveram problemas no local de trabalho, porque de uma maneira ou de outra, havia sempre alguém interessado em se aproximar sub-repticiamente ou então declaradamente, no sentido único de obter algum favor sexual em troca.
Para que houvesse alguma forma de assédio em torno da minha pessoa, tive de ser eu a promovê-lo. Quase sempre essas tentativas foram intentadas a expensas próprias e muito raramente correram bem. Posso mesmo dizer que devo ter um saldo devedor.
É por isso muito difícil para mim entender alguém que padece desta obsessão. Eu explico porque se torna difícil esta compreensão.
Esta análise tem a ver com empatia, ou seja a capacidade que temos de nos colocarmos no papel do outro. Ora isto para mim é um problema, porque nunca estive no papel do outro.
Uma vítima, para ser uma verdadeira vitima, não pode colocar-se nessa posição, ou seja uma vítima para ser vítima não pode saber ou sequer adivinhar que um dia será vítima, porque caso contrário, passará a ser o objeto sobre o qual agirá o sujeito agressor, e não há efeito que não tenha a sua consequência.
Daqui nasce a tradicional confusão entre a abordagem forçada e a abordagem consentida.
Eu não sirvo de vítima por que já me pus a jeito e nada aconteceu.
Resta-me apurar por que motivo alguém que não está virado para desempenhar esse papel, se torna protagonista do mesmo, e alguém que sempre sonhou com esse desempenho, nunca foi chamado a assumir o papel da vítima.
É o sex appeal que justifica a constante vitimização de uns, e a confrangedora exclusão de outros. Não acho justo, porque até tenho trabalhado bastante esse aspecto. Passe um pouco a imodéstia, não sou estúpido e adapto-me bem a situações novas.
Continuo a achar absolutamente injusto, haver alguns, segundo dizem, bastantes, que já foram vítimas de assédio e por várias vezes. E eu que tanto me tenho exposto... Nada.
Por outro lado, dou por mim a pensar: Será que já fui vítima e não dei por isso? Poderemos considerar ser uma tentativa assédio quando uma colega nos pede licença para tirar uma fotocópia e passa à nossa frente só porque é mulher? Convidar-nos para tomar um café e no fim deixar-nos pagar?
Estou confuso e desiludido por não entender porque motivo nada acontece.
É ridícula esta falta de experiência e estar rodeado por gente que já viveu situações atrozes.