Sinais exteriores de pobreza
Estive a ponderar sobre a perspetiva de abordagem a este problema. Conclui que, como em tudo, há várias formas de o analisar, mas vou ater-me apenas a duas: o ponto de vista social e a visão neoliberal.
Sempre que o número de desempregados sobe todas as relações económicas se ressentem. O número de transações desce e os seus valores reduzem-se. Por efeito de arrastamento a maioria dos setores de atividade sofrem depreciação.
Começa a verificar-se que as condições de pobreza se tornam mais visíveis. Os carros em circulação são mais antigos e sem manutenção, imóveis antigos a degradarem-se e os imóveis novos que não se vendem. Também se nota um grande aumento de indivíduos em condição de “sem-abrigo”, ou seja os sinais exteriores de pobreza começam a tornar-se evidentes.
Nessa altura aqueles que acreditam que todo o ser humano tem direito a uma boa qualidade de vida, propõem que seja ilegalizada a pobreza para que o Estado se responsabilize pela criação de condições, que propiciem as melhores condições de vida aos seus cidadãos. A principal medida a tomar é o incentivo à geração de emprego, tudo o resto vem por acréscimo.
A ideia subjacente ao conceito de ilegalização da pobreza, é provocar os decisores políticos a pensarem na pobreza enquanto fenómeno ilegal, e de motivá-los a tudo fazerem para o erradicar. O limiar mínimo de pobreza devia ficar inscrito na Constituição, tendo como contrapartida um limiar máximo de riqueza.
Tudo isto parece utópico, mas vale como um princípio base de raciocínio. Claro que as condições de acesso a recursos deveriam ser devidamente escrutinadas e sancionadas, para evitar os abusos do costume.
Por outro lado, existe também o perigo de se pensar que o direito a ter uma condição mínima de vida, a nada obriga para a conseguir. São estes os casos que deverão ser monitorizados para que fique assegurada a participação de todos no bem comum. Os apoios públicos têm de ter sempre contrapartidas ou corremos o risco de criar parasitas.
Mas tenho de referir a outra perspetiva, menos romântica e mais atual. É a visão daqueles que acham ser legítimo que por terem mais dinheiro, podem ter mais direitos que os outros. Para esses a pobreza deve ser ilegalizada, mas por detenção dos prevaricadores, os pobres. Ou seja, para esses indivíduos um pobre só é pobre porque quer. O mundo, segundo eles, está repleto de oportunidades e só quem não quer é que não as aproveita.
Para esta gente, a que eu chamo neoliberais, a pobreza é fruto da falta de empenho dos próprios, esquecendo que não depende deles a criação dos meios para saírem da sua condição.
Os neoliberais tendem a ocultar a existência dessa realidade. Ainda há pouco tempo em Nova York um condomínio criou uma entrada exclusiva para pessoas ricas e uma outra para as pessoas com menos posses. Em Londres verifiquei em vários prédios a colocação de ferros pontiagudos junto às soleiras das portas, para evitar que os “sem-abrigo” se instalassem na entrada dos prédios. Em várias cidades são colocadas barreiras visuais, para que não sejam visíveis as zonas pobres. Qualquer dia acabam com os jornais para que eles não se possam cobrir. Não se combate o problema, oculta-se e está resolvido.
Os sinais exteriores de pobreza têm ainda, uma última leitura, a pobreza de espírito.
A pobreza de espírito não tem correspondência direta com a pobreza material e infelizmente é ainda mais abundamente.
Reparem que estes sinais exteriores revelam-se principalmente pelo nível de educação. Os sinais exteriores de pobreza de espírito não são visíveis pela gradação de estudos que possui, é mais fácil apurá-los na quantidade de bens materiais que se possui, pela quantidade de horas passadas num centro comercial, ou no desconhecimento puro e simples da realidade. A pobreza de espírito invariavelmente conduz à pura ignorância.
Por mim os sinais exteriores de pobreza de todo o tipo deviam ser investigados e tudo deveríamos fazer para os erradicar.