Agora que passou a quadra do Natal apeteceu-me escrever sobre ela. O Natal para mim é um tempo de reunião familiar por opção, não a reunião de obrigação. As junções familiares só porque sim, não resultam.
Quando pessoas que pouco têm comum a não ser que pertencem a determinada família, que durante o ano nem sequer se lembram umas das outras, mas que resolvem encontrar-se uma vez por ano só porque assim deve ser, tem pouco de genuino e mais parece uma reunião anual dos colegas de curso.
Para mim o Natal pouco tem de religioso mas tem muito de coração, respeito muito a tradição e principalmente o ambiente que rodeia as crianças. Olhando os meus filhos, lembro as tardes e serões de Natal da minha infância e adolescência. Recordo a exibição na televisão dos filmes “Musica no coração”, “Alice no país das maravilhas”,”Serenata à chuva”, “O feiticeiro de Oz” e em particular “Conto de Natal” produzido pela BBC, baseado no romance de Charles Dickens. É sobre ele que vos vou falar.
O livro “A Christmas Carol” foi escrito em menos de um mês e foi publicado em 19 de Dezembro de 1843. Dickens precisava urgentemente de dinheiro para pagar dívidas. O livro foi de imediato um sucesso, vendeu 6.000 exemplares na primeira semana.
O personagem principal é um velho avarento de nome Scrooge que detesta o período natalício. Explora o seu empregado Bob, pai de 4 filhos, um deles é deficiente.
Scrooge, num sonho na véspera de Natal recebe a visita do seu sócio Jacob Marley, morto há sete anos. Ele avisa-o que o avarento nunca descansaria em paz se não se tornasse outra pessoa em vida e envia-lhe três espíritos de Natal, o passado, o presente e o futuro.
Os espíritos mostraram-lhe visões dos seus natais felizes quando era criança, do Natal presente afastado de todos e dos natais futuros em que ele surgia sozinho abandonado por todos.
Quando acordou o avarento Scrooge transformou-se, tornou-se outra pessoa e começou a dedicar mais atenção ao seu empregado e principalmente ao menino Tim, o que tinha problemas nas pernas. A celebração do Natal a partir de então é uma festa.
Charles Dickens escreveu o romance em pleno desenvolvimento da revolução industrial. Nele são relatados os contrastes sociais que se vincavam na época. A diferença entre os ricos e os pobres aumentava, a pobreza tornou-se absolutamente corrosiva e Dickens alerta para a perda de valores de uma sociedade que vive separada entre a miséria e o lucro. O Natal surge como palco dessas diferenças.
É interessante como um romance intensamente político tenha atingido tal sucesso junto da generalidade das pessoas e ainda hoje permanece atual.